A revista Focus fechou. Anos e anos de ameaças finalmente concretizados. Aflige-me, não o fecho da revista, mas as vidas dos meus amigos que lá deixei nos cinco anos que lá passei, três dos quais absolutamente miseráveis. Aprendi muita coisa boa, conheci lá as melhores pessoas que me ficarão para a vida, mas passei ali os piores anos da minha existência, experimentei os sentimentos mais amargos. Ainda hoje não sou o que era por tudo que aquele inferno me fez.
No dia em a Focus fechou outros colegas pediam no Facebook que fizessemos um like na nova página da Impala. Nem morta. Onde é que se põe o like? Na perseguição ridícula aos empregados? Nos salários miseráveis? Ou nos despedimentos colectivos que de vez em quando têm lugar?
Alguém me disse que vivo num planeta perfeito. Não. Apenas me recuso à resignação, apenas me recuso a aceitar ser uma sorte ser paga pelo meu trabalho, apenas me recuso a olhar só para o meu umbigo e não pensar naquelas 18 pessoas que ficaram sem emprego. Como dizia a minha Veró noutro dia num comment, já ninguém se importa com o vizinho do lado. E é tão triste.
Saí no dia 28 de Maio de 2008. Nunca mais me esquecerei desse dia, porque foi o mais feliz da minha vida, o dia em que saí para não voltar no outro dia porque me despedi. Na pior altura que lá passei, noutro blog, escrevi este texto sobre como me sentia naquela redacção, em 2005.
Hoje é sexta feira, 13 e chove lá fora. E eu estou aqui, presa nas masmorras da tacanhez, a definhar lentamente. A ver a minha vida a passar como se estivesse a ver um filme, demasiado confortável sentada no sofá para me levantar e mudar de canal. Lá fora chove e aqui também: há uma tempestade no meu coração que eu não consigo parar. Há muito tempo que vivo no Inverno, há muito tempo que quando entro aqui o sol desaparece e fico cheia de frio. Dos meus dedos frios discorrem palavras igualmente frias, sem emoção nem criatividade. Sou uma máquina de produção de conteúdos. De vez em quando o medo apodera-se de mim, o meu coração bate mais forte, raios e trovões brotam do meu peito, para logo me acalmar e ver que a porta está fechada. E que eu estou presa, nas masmorras das estupidez e do poder, sem nada poder fazer. Com uma máscara de ferro para que sejamos todos iguais, para que se perca a humanidade e as lágrimas não se vejam. De nada servem as conspirações e as queixas em surdina…
Nos corredores há sempre alguém que nos vê, aqui sentada os meus passos são seguidos minuciosamente através deste ecrã que mais parece uma janela para o inferno.
Hoje é sexta feira, não interessa se é 13 ou não, se chove lá fora ou não. Interessa que é lá fora que eu vou estar durante dois dias. Uma espécie de licença precária, que me recarrega para voltar à escuridão das masmorras onde vou definhando calmamente, sem nada fazer, a ver o tempo passar e a minha vida encolher…
5 comentários:
Não vou comentar mais que isto: como te compreendo, como sei o que são essas masmorras e como sei o que são essas perseguições a quem sabe fazer enquanto oa gulosos continuam a encher o cú. :/ Partilho muito do que dizes, mas, infelizmente, a frase que mais me parece tb minha é esta: "...passei ali os piores anos da minha existência, experimentei os sentimentos mais amargos." E sei que a minha parte amarga foi toda ganha lá; tudo isto para te dizer que não poderia ter dito melhor aquilo que disseste sobre a Focus, local onde nunca trabalhei, mas basta estar dentro daquele cogumelo envenenado e ser inteligente para sentir essas coisas todas. :-/// beijocas larocas com amizade
pelos vistos foi o melhor que fizeste. tu nao vives num mundo perfeito mas certamente queres viver no melhor dos mundos possível. e ser humilhado e desvalorizado está longe de ser um deles. you go, girl.
A minha experiência foi curta mas em dois meses entendi um bocado do que se passava ali. Percebi rapidamente que não seriam 4 meses que fariam com que eu ficasse ali . Para além de que o ambiente era pavoroso... Poucas ou nenhumas pessoas falavam comigo. Uma hostilidade desnecessária...estranha. A única coisa que posso dizer e que infelizmente a maioria das empresas portuguesas esta cheia de pessoas e ambientes hostis. Uma estupidez.
Entendo-te perfeitamente. Vivemos numa época em que ter emprego é considerada uma dádiva divina. Há que estender as mãos ao céus e agradecer. Quem tem a coragem de bater o pé (e depois com a porta, como acabaste por fazer no final), é visto como mimado, petulante e mal-agradecido. Temos que aceitar qualquer porcaria que nos sirvam?
Fico feliz por seguires os teus sonhos! Tanta gente aqui em Portugal que trabalha em bancos ou consultoras, não gosta, mas dizem que dá "currículo". O currículo não passa de uma folha e chateia-me ver amigos meus a fazerem aquilo que não gostam só por isso.
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