Cartas


18/02/2011

The strangest things can happen!

Vocês não vão acreditar no episódio de hoje… a sério, não vão mesmo. Isto já me aconteceu há umas 6 horas e eu própria ainda não estou a acreditar. So, let’s start from the beginning
Acordei cedinho como sempre e falei com Portugal. Depois eu e a Paulina andámos a caçar um lagarto cá em casa. Este foi difícil! Bolas que o gajo não se deixava apanhar! E eu que tenho um nojo imenso desse tipo de bicharada andava feita louca aos gritos pela casa com medo que ele me subisse pelos pés e a tentar desviar os móveis, enquanto a Paulina tentava enxotá-lo com a vassoura ou agarrá-lo pela cauda. Acabámos por esquecer a porta das traseiras aberta, por isso acredito que tenha sido um esforço vão… devem estar agora cá dentro uns 30 lagartos e uns 10 pássaros… 
Depois da aventura doméstico-campestre fui correr. Hoje era dia de treino novo, ou seja, dia de acrescentar dois minutos ao treino. Por isso prefiro ir de manhã, custa menos. 28 minutos a correr que me souberam que nem ginjas! Mesmo bom! Chegada a casa, banhinho tomado, preparada para sair e ir conhecer o tal bairro português: Petersham. Não é que seja muito longe, mas aqui os transportes dão voltas infinitas e tem de se trocar 300 vezes de linha. Vai daí  sabia que tinha uma longa jornada pela frente: iPod e água na mala, mais umas maçãs e máquina fotográfica na mão: bora lá conhecer esses tugas!
Quando cheguei à estação de comboio fiquei logo desapontada. Umas ruas assim muito sozinhas, com umas casas engraçadas mas sem grande vida. Perguntei onde era o bairro português: you go straight ahead, turn right and that’s all portuguese! Assim fiz. Encontrei uma loja de bebidas com Sagres, Monte Velho e vinho de Ponte de Lima, uma agência de viagens portuguesa e uma pastelaria, com pastéis de Belém a 3 dólares a unidade. Entrei aqui. Um grupo de portuguesas de meia idade conversavam na mesa. Apresentei-me, disse que também era portuguesa e que procurava alguma comunidade local de portugueses, uma espécie de Casa de Portugal ou qualquer coisa assim. A muito custo e sem grandes simpatias nem boas-vindas lá me indicaram o Clube Português de Sydney e até me deram um papel com a morada. Disseram que demoraria uma meia hora a pé, só não me disseram que era a duas estações de comboio e que havia autocarros para lá… Lá fui eu, debaixo de sol – as ruas não tinham sombra nenhuma – a apreciar as casas, tudo muito deserto, não se via ninguém. Sem saber se ia pelo caminho certo vi um sr. com pinta de australiano a fazer exercício. Calção de Lycra, camisola de ciclista, garrafa de água na mão e boné…vamos chamar-lhe careca ordinarão:
Me: Excuse me, could you tell me where is this address, please? (e mostrei o papel)
Careca ordinarão: Oh I’ve no idea but I go to the other side of the road with you and help you find.
Me: arghhh… ok… thanks
Careca ordinarão: So, how you’re doing today?
Me: Pardon?
Careca ordinarão: So, how you’re doing today?
Me: I’m ok… (Mas ca raio de pergunta...)
Careca ordinarão: Ok! Are you married?
Me: hummm… yes I am! (bem não tens muito a ver com isso mas ok...)
Careca ordinarão: For how long?
Me: well… three years (hummm deves querer conversa)
Careca ordinarão: You look so young to be married!
Me: Well… not that young actually  (xiii que converseta foleira)
Careca ordinarão: no? how old are you?
Me: I’m almost 32
Careca ordinarão: Oh! Really? I could never guess! You look very young.
Me: arghhh… thanks I guess (yeah right...dá-me graxa)
Careca ordinarão:  That’s fine! As long as you swallow sperm that’s all right!
Me: What? (epá percebi mal caramba!)
Careca ordinarão:  As long as you swallow sperm that’s all right!
Me: I’m not sure that I understand you… (mas este gajo acaba de me perguntar se eu engulo? nã... não pode ser)
Careca ordinarão:  As long as you swallow sperm that’s all right!
Me with a smile on my face: E se fosses mamá-lo meu grande filho da p***? Can you give me my peace of paper now ? I said now!
Careca ordinarão:  Will you be fine?
Me: Yeah. (P*** que te pariu! Ca raio! Tarado de merda!)

E nisto o cabrão tentou beliscar-me o rabo… não havia ninguém na rua. Pela primeira vez desde que cá cheguei senti medo. E olhem que já vim da faculdade para casa pelo meio da floresta à noite, sozinha. Isto foi uma cena mesmo freak! Fiquei logo mal impressionada com o bairro. Isto foi para compensar a piada que o Matt teve no outro dia… Fui seguindo, pior que estragada, já meia arrependida, mas eu sou uma mulher de objectivos, e se fui lá para ver o clube português, ia ver o clube português!
Vou eu embrenhada nos meus pensamentos, furiosa, com vontade de voltar atrás e pregar duas bofetadas no cabrão do careca, quando passa um carro com 3 gajos lá dentro que gritam: Oh boa!  O meu pensamento: F***-**!! Cheguei a Portugal C******!
Mas eu sou teimosa, e continuei. Furiosa! Mas lá fui eu. Entretanto já estava a caminhar há mais de uma hora: Ai que aquelas p**** enganaram-me! Esta merda é longe comó catano!
Lixo nas ruas, gajos a passearem com a camisola da selecção, tunnings por todo o lado, carros a passarem com música aos berros… Portugal no seu pior ali concentrado. De repente lembrei-me porque é que saí de Portugal e percebi que não devia ter ido ali. Mas já tinha andado mais de uma hora não ia desistir… Lá encontrei por fim o clube. Uma tasca cheia de velhos barrigudos a beberem cerveja e a jogarem às cartas… e um empregado, o André, de Faro, que me salvou o dia. Estudante como eu, faz ali umas horas para ganhar dinheiro. Deixou-me usar a casa de banho, deu-me uma garrafa de água fresca e conversou comigo. Apresentou-me o Vítor, estudante de cinema que acaba de conseguir o sponsored visa. Indicou-me uma estação de comboio a 5 minutos dali. Trocámos telefones para quando precisarmos. Quis sair dali o mais depressa possível. Aquilo não é a cidade que eu vi até agora. É um bairro manhoso cheio de gente esquisita. Conselho do Vítor: “A sério, não te dês com portugueses aqui. Não ganhas nada com isso.” É triste, mas vou seguir o conselho.
De volta à faculdade lá fui eu à festa dos estudantes internacionais. O tema da festa era speed friendship e é como o speed dating basicamente. Antes havia sushi, confesso que fui lá de olho no sushi. Mas lá acabei por conhecer uma miúda holandesa que me deu boas dicas sobre como encontrar casa aqui – em Julho vou precisar; um malaio completamente gay e que sabe fazer a mooonwalk; 30 chineses; um indonésio; uma chinesa do meu curso; e uma alemã. Não me lembro do nome de ninguém… os chineses então podem passar por mim que não os reconheço. Encontrei ainda a minha housemate com o seu amigo brasileiro que está a fazer o PhD em Física e ainda um pequeno chinês amoroso, do mais gay que há que ficou encantado por me conhecer porque a Paulina lhe disse que eu era jornalista e esse é o maior sonho dele. Espero que seja mais fácil ser jornalista aqui… senão tadixo, ele que se prepare para ver os sonhos destruídos, pisados e queimados!
Estou finalmente em casa. A Paulina tem um amigo novo e foi sair com ele. Pelo menos avisou que ele vai dormir cá em casa. Ah e tal diz que não há transportes. Pois sim… bom pelo menos avisou, o que significa que começa a perceber que eu também vivo aqui…
Agora estou no sofá e estou com medo que me apareça um lagarto ou um pássaro ou sei lá, um esquilo! Vou ver o Rasgar depois de Ler, que é um excelente filme e amanhã continuar o meu plano de marketing. Quem sabe passe pela praia. Aqui ficam as fotos de hoje. Enjoy!
Antes de começar a jornada estava bem disposta

Cheguei a Petersham curiosa

As ruas desertas não me animaram...

Odeio Coelho, mas achei piada ao cartaz e ao nome do restaurante

São os Silvas e os Santos... estamos em todo o lado!

Nesta rua cheira a frango assado!

O edifício da câmara lá do sítio

A Igreja a entrada de Merrickville

O munícipio de Merryckville e a aproximação de uma festa portuguesa

Merryckville Rd

Finalmente...

O tasco







10 comentários:

Vânia Pinheiro disse...

Oh Leninha...
Para começar: procurar TUGAS??? Onde estavas tu com a cabeça? LOL.
Os emigrantes, à partida, não são nada simpáticos ou solidários.
Quanto ao velho nojento, eu mandava-lhe um pontapé nos tomates (desculpando o termo).
Mas foi bom teres conhecido dois estudantes portugueses decentes. Podem ajudar-te, dar-te umas dicas.
Espero que tenhas mais sorte na tua próxima jornada!

Beijo.

Lena disse...

Sim de facto o que me deu na mona... mas olha, como costumo dizer, é com os erros que aprendemos. Não volto àquele bairro nem que me dê uma vontade irresistível de comer bacalhau ou pastéis de nata!

Ana disse...

Se te apetecer comer bacalhau ou pastéis de nata fazes em casa, vê as receitas na net, é mais seguro! :) Mas se quiseres mto lá ir, crava à Paulinha para ir também, não voltes lá sozinha. Que aventura :S Chiça!
Aproveita as festas, é uma boa forma de conviver e descontrair.
bjs

Claudia disse...

Bolas!Que filme!
Já tinha ouvido contar sobre estudantes ou pessoas da nossa idade que vão trabalhar para outros países que acabam por procuram as comunidades portuguesas para ver se encontram um "bocadinho" de casa... mas na verdade o que acabam por encontrar são pessoas (e descendência dessas pessoas)que ficaram paradas no tempo e o que mantêm vivo de Portugal já não tem nada a ver!
(tipico emigrante que volta no seu bruto carro a ouvir Tony Carreira aos berros).
Mas encara isto como uma experiência que já lá vai e amiga não voltes lá, não precisas.
Beijo grande

Anónimo disse...

Ena grande aventura.
No fim isto foi uma experiência engraçada/traumática/fo**did*a/expectável.
Vejamos, todas as comunidades portuguesas são verdadeiros tascos. Como li aqui, reminiscências do passado que pouco ou nada têm a ver com a realidade. Já conheci duas grandes, França e Canadá, e digo-te, é de fugir, talvez interessante para o pessoal que vem do Portugal mais profundo. Logo concluimos que aí não devia ser diferente. Facto: Não É!
Depois, conforme um sábio português te deve ter informado, a Austrália tem um problema grave de falta de febra (são 10 macacos para 1 galho). É natural que a coisa fique agreste e a vergonha seja coisa que os que sofrem de mão calejada já não tenham. Be careful.
Por isso, e para concluir, não faltaram chinos paneleiros e gajos bardajeiros.

Bj
ML

p.s. A Primeira Foto é a Melhor!

Rabbit disse...

Caro sábio português, eh eh eh eh, na minha inocência pensei que aqui fosse diferente por ser um país mais distante e com uma cultura bem diferente da Europeia. Redondamente enganada, lição aprendida, não volto lá nunca mais!

Sérgio Vilar disse...

Epá, isso foi uma cena muito hardcore e lamento que se tenha passado. Mantém-te alerta sobretudo em zonas que te são desconhecidas.
Quanto a bicheza, eu quero ver se na 2ª feira tb apanho uns quantos lagartos...
Beijo ;)

Anónimo disse...

ahahah, muito boa a tua história!

Luís Reis

Anónimo disse...

Olá amiga!!!
Grande aventura!!! Mas por favor não repitas, é mais seguro.
Espero de coração que estejas bem.
Beijão
Li

Vendetta...everything you do in life comes back to you. disse...

Olá,
Chamo-me Pedro, sou casado com a Alexandra e tenho 3 maravilhosos filhos. Sou arquitecto, a Alexandra está em casa a tratar da miudagem e estamos a considerar emigrar para a Austrália. Nas buscas que estou a fazer via net, deparei com o seu blog, e tomei a liberdade de aproveitar para fazer umas perguntas, a que espero que tenha a paciência necessária para responder, pois estando em Sydney deve ter um bom conhecimento local.
Pelo que entendo, sem uma oferta de trabalho como ir para aí? Sem visto não se entra, mas sem trabalho não há visto, correcto?
No seu caso como foi? Já tinha trabalho à partida, ou é, ou ainda foi estudante em Sydney antes de começar a trabalhar?
Era uma ajuda grande para começar a esquematizar um plano...
Pela leitura do seu blog (e de outros) aprendi um bom bocado sobre essa terra e que não vem nos sites "oficiais". Obrigado por isso.
Imagino que nem tudo sejam rosas e que também aí existam muitos espinhos, mas no estado em que está Portugal, e pior ainda, no estado em que vai ficar nos próximos anos, é agora ou nunca. Estamos (eu e a minha mulher) há anos a falar sobre emigrar, pois as coisas não melhoram por mais que tentemos, e agora tem que ser!
A construção está parada e vai piorar. A área os interiores (design de lojas e serviços que é a minha especialidade) segue o mesmo caminho, e a somar a isto junta-se o péssimo hábito "português" de não pagar (ou adiar esse acto) os trabalhos...
Enfim, toda a ajuda é bem vinda.
Mais uma vez agradeço toda e qualquer informação que possa ajudar.
Boa sorte para si.
Cumprimentos.
Pedro Alves
finedesign@iol.pt

p.s. Aproveito para deixar o meu blog que funciona como portfolio virtual: http://finedworld.blogspot.com/