Cartas


28/03/2012

De batalha em batalha

Já o disse aqui várias vezes que não sou, por natureza, uma pessoa optimista, antes pelo contrário. Vir para outro país, no outro lado do mundo, completamente sozinha e, literalmente, com uma mão à frente e outra atrás não acabou com esta minha forma de ser. Mas ajudou-me a arranjar formas de transformar as ameaças em oportunidades, as fraquezas em forças.

Eu deixaria de ser eu, se de um momento para o outro me tornasse a pessoa mais positiva do mundo e, por isso, deixei de combater e aceitar. Dar a volta. Isso não significa que não me consuma da mesma forma, que não perca noites de sono a pensar. Aliás, pensar de todos os ângulos e perspectivas é a minha maior benção e a minha maior maldição.

Ultimamente tenho pensado todos os minutos dos meus dias e das minhas noites no meu estágio. Como já aqui o disse não começou bem. Mas as coisas de que me queixei eram relacionadas com a aceitação social. Esforcei-me, esforcei-me muito, até à semana passada em que desisti, quando à hora de almoço todos se levantaram, perguntaram ao meu supervisor se queria ir almoçar e me ignoraram, a mim e à outra estagiária.

Desisti, primeiro porque não quero, no futuro, fazer parte de uma empresa cheia de gente pretenciosa e mal educada. Been there, done that. Segundo, porque não se pode forçar ninguém a aceitar ninguém, e se depois de todos os esforços continuo a ser ignorada então estamos perante um caso perdido. Terceiro, porque cada vez mais dispenso a necessidade de aprovação social seja de quem for, sobretudo de pessoas que não conheço e que, acima de tudo, não respeito.

Contudo, o problema à séria começou quando o meu supervisor resolveu definir-me um horário em que a minha única tarefa é…imagine-se, escrever artigos. Para uma ex-jornalista, vamos concordar que isto não é grande aprendizagem…muito menos em SEO, aquilo em que me inscrevi.

Tentei falar com o meu supervisor – doravante conhecido como Alex P. Keaton – sobre aquele horário. Perguntei-lhe se era válido até ao final do estágio. Ao que ele respondeu que sim. Acrescentou que as outras tarefas são muito técnicas e que eu não poderia aprender. Que eu não poderia aprender, e que ele não me poderia ensinar. Tentei então oferecer a minha ajuda na produção dos relatórios mensais. Disse que não, que era uma tarefa pontual.

Engoli. Fiquei o dia todo a escrever artigos até ter os olhos em lágrimas. Decidi que esta semana ia aproveitar os exames de mid-semester e não pôr lá os pés. Fiquei a matutar: “You can’t learn”. Todos os minutos: “You can’t learn”. Durante o jantar:“You can’t learn”. No cinema: “You can’t learn”. Antes de fechar os olhos, já na cama: “You can’t learn”. Em sonhos: “You can’t learn”. “You can’t learn”.

Decidi então não deixar esta palhaçada continuar. Mandei ontem um email à supervisora do pequeno Alex P. Keaton a explicar, de forma diplomática, que não estou disposta a escrever artigos o resto do estágio, que isso não é de todo uma aprendizagem para mim e que espero mais desta oportunidade.

Logo a seguir reencaminhei este email para a responsável do Departamento de Estágios, a K., e expliquei-lhe umas coisas. Nomeadamente a conversa que tive com o pequeno Alex. A K. falou com ela.

Hoje obtive a resposta. A supervisora do anão desmentiu-me. Disse que o tal horário era só para esta semana…a tal em que não estou. Que não é verdade que só tenha escrito artigos até ao momento. Depois mandou-me um email a tratar-me como uma anormal. Respondi-lhe à altura, expliquei-lhe que há um formulário que explicita as tarefas que tenho para cumprir e disse-lhe que na próxima semana espero ter novas tarefas.

É incrível que nada para mim cai no colo. Este estágio não podia ser apenas uma excelente experiência de aprendizagem. Não. Tinha de se tornar em mais uma batalha.

E eu aqui estou. Pronta para entrar no campo, armada com 17 livros sobre PHP, JAVAscript, CSS, XHTML, HTML, SEO e outros acrónimos que queiram.

E agora vamos ver quem é que não pode aprender, pequeno anão ridículo.

8 comentários:

G disse...

Chalenge accepted!

Detesto anões presunçosos. Se forem anões gordos presunçosos. pior.

Força nisso!

G.

G disse...

Isto ficou guardado?

G disse...

Parece que sim...moving on.

Rabbit disse...

Ah ah ah
Tenho pra mim q se ele n tivesse dito q n posso aprender tinha ficado deprimida e caladinha. Mas aquela frase é como uma droga a q n posso resistir. Darei seguimento a esta novela!

G disse...

Fico à espera.

Qualquer dia tb me passo com isto e vou-me embora. Tenho um bocado mais "lastro" (3 kids) mas vontade não falta.

G

G disse...

Os 3 1ºs comments tb são meus...

Isa disse...

Mai nada. miúda, será pelo melhor pq quem está focado no que quer, consegue. vai saber o que tinhas para aprender aí. mais uma batalha ganha, foda-se, pra seres explorada e mal tratada ficas em casa, perto dos teus.
Bjos e forçaê!

Unknown disse...

Olá Helena bom dia, hoje dei uma passada aqui e varri os últimos posts com comentários. Olha, é de facto a mesma cena em qualquer lado do mundo, nas novas tecnologias ainda pior porque existe uma tendência de julgar as pessoas por tudo e mais umas botas. Quando trabalhei em agências, na área criativa, por andar de fato e gravata, era julgado por não ser "fora" suficiente... Enfim este post merecia largos comentários mas vou deixar-te aqui um conselho, quando os livros se tornarem aborrecidos vê videos, existem sites óptimos para aprenderes a experimentar tudo o que falaste, aqui vão alguns que valem bem a pena:W3Schools , Nettuts , julgo que são optimos recursos. Em qualquer caso se precisares de ajuda e esclarecimentos, é a minha área, feel free.