Cartas


09/01/2012

Carta aberta ao Senhor José

O senhor José acha que eu sou uma pessoa frustrada. De acordo com o dicionário da língua portuguesa frustrar significa privar a outrem do que espera com fundamento; iludir; inutilizar. O senhor José tem portanto toda a razão. É incrível como é que chega a esta conclusão através de meia dúzia de declarações numa entrevista, sem nunca me ter visto ou conhecido. Aplausos para si e para mim. A entrevista foi, portanto, bem sucedida porque conseguiu passar a mensagem. Eu sou uma pessoa frustrada, senhor José. Está coberto de razão.
Contudo, a minha frustração não vem dos 500 euros que ganho, conforme diz (e já agora aconselho-o vivamente a aprender a ler). A minha frustração vem de hoje ter ido largar o meu marido ao aeroporto e não saber quando o vou voltar a ver. Com sorte em Agosto. Já percebi que tem problemas a fazer contas: são oito meses.
A minha frustração vem de me ter visto sem saídas num país que é o meu e pelo qual sempre tentei fazer o melhor. A minha frustração vem de nunca ter visto as recompensas devidas pelos meus anos de trabalho, pelo investimento que fiz em mim. Mais do que isto, eu sou uma pessoa frustrada de cada vez que leio as notícias do meu país. Quando vejo reformas de 500 ou 600 euros a serem cortadas, quando vejo os reformados sem dinheiro nem para os medicamentos a terem de pagar taxas moderadoras exorbitantes e até consultas telefónicas, quando vejo jovens, como eu, sem emprego, sem esperança e sem a capacidade de lutar, sonhar ou concretizar seja o que for. E também quando vejo a trafulhice, a corrupção e a filha da putice que por aí vai.
Eu sou de facto uma pessoa frustrada, senhor José. Tem toda a razão. Mas não é pelos "500 euros" que ganho (a sério...era aprender a ler e a fazer contas). É porque daqui a 4 meses faço 33 anos e não posso pensar sequer em ter um filho, privando assim, também, o meu marido. A minha frustração, senhor José, não vem, nem nunca veio do dinheiro no fim do mês ou da quinzena. A minha frustração veio sempre da impossibilidade de progredir num país que amo mas que me mal trata, que me negou ajuda quando pedi e que me pede - a todos os jovens - para sair.
Todos os dias fico frustrada com os mails que recebo de pessoas tão frustradas como eu que não vêem outra saída senão a de abandonarem o país onde cresceram, criaram raízes, têm os amigos e a sua história.
Senhor José, eu sou uma pessoa muito frustrada quando penso que podia estar confortavelmente no meu país, a usufruir do meu apartamento e a acompanhar as vidas dos meus amigos, que estou a perder e que nunca mais vou recuperar.
Mas sabe, senhor José, o que me deixa ainda mais frustrada, mais do que achar que Portugal chegou ao nível mais merdoso da sua história - um dia gloriosa - é confirmar, que o meu país, está cheio de pessoas como você, e que é isso que torna o país ainda mais nojento.

8 comentários:

BlueAngel aka LN disse...

Há gente muito burra mesmo!!! E, sim, tens razão, é por causa de pessoas como esse fulano que isto não anda mais para a frente e não mexe! Força, amiga!!! beijocas larocas com amizade

Ana Albernaz disse...

De facto, como dizia o outro "Vá mas é fazer qualquer coisa de útil à sociedade", sr. José - não confundir com o meu marido que, por acaso, tem o mesmo nome´, mas felizmente não partilha da falta de inteligência.
Bj grande, Lena, e 8 meses passam a correr :)

Isa disse...

Não sei quem é o Sr. José, mas parece-me um demente.

A minha frustração veio sempre da impossibilidade de progredir num país que amo mas que me mal trata,

Nem mais, fodam-se, que eu quero é ser feliz.

Bjo, miúda, força, que viver fora não é fácil...

Magíka disse...

Eh pá... mais um "josé"...ultimamente só encontro "josés".
o "josé" provavelmente não sabe o que é fazer contas ao dinheiro (contas certamente não sabe...), nem sabe o que é lutar sem ter nada em troca ou pior, ter em troca um salário miserável, promessas vãs, mais responsabilidade, investir mais em ti para estares mais qualificada e teres mais trabalho e menos salário -; não sabe certamente o que é cuidar de gente doente e sem apoios nenhuns, ver os pais não conseguirem subsistir sozinhos, ver o vizinho do lado não ter dinheiro que chegue para um pacote de arroz e comprar trinca para comer e - factor importantíssimo que não assiste a uma grande quantidade de pessoas - importar-se com isso... e tantas outras coisas que se passam neste país.
O "Sr José" não sabe quem tu és.

Cate disse...

DÁ-LHE MULHER!

Merenwen disse...

Grande desabafo! E cheio de razão. Percebo bem a frustração de que falas quando eu, os meus amigos, o meu namorado, vemos todos os planos de vida adiados. De nada valeu ter boas notas, boa média, estágio com cartas de recomendação. Este país não deixa ninguém com mérito mas sem "connections" andar para a frente. É frustrante também ter encontrado o amor da minha vida, e não saber quando o volto a ver porque está há mais de um ano a trabalhar no outro lado do mundo. O homem com quem queria construir a minha vida e envelhecer ao lado, foi-me privado porque aqui nem na Worten conseguia emprego.Se isto não é motivo para invadir a Assembleia da República, não sei o que será!

pedro disse...

Eu também sou um frustrado como tu :)

anitA disse...

altamente, a sério!!!