Ele foi buscar o carro e eu fiquei guardiã das malas. Estava preocupada ao mesmo tempo. Isto de conduzir numa cidade daquele tamanho com o volante no sítio errado tem que se lhe diga. Não era eu que ia conduzir, e ele até já tem experiência nessa matéria, mas mesmo assim era coisa que me estava a perturbar. E sabia que por ser altura de Natal a vigilância nas estradas era a triplicar. Aqui, a polícia, além de altamente respeitada, não é para brincadeiras.
Assim que o vi lá ao fundo parado no sinal cresceu em mim outra vez o entusiasmo que acordou comigo. Sem mapa na mão, mas com o magnífico sentido de orientação do meu mais que tudo, lá conseguimos sair da cidade em direcção a Geelong. Não sabíamos muito bem o que íamos encontrar. Ou pelo menos eu não sabia. Ele como tinha estado a tratar de tudo, a organizar todas as paragens, estava mais a par do que eu.
Parámos no centro de turismo. Uma senhora velhota lá nos deu mapas, roteiros e ideias de tudo o que poderíamos ver no percurso que tinhamos planeado para os cinco dias seguintes. Ela, em compensação, viu pela primeira vez um par de portugueses, o que muito a entusiasmou.
Ainda era cedo e os quilómetros que tinhamos planeados para o primeiro dia nem eram assim tantos, por isso resolvemos parar em Geelong, de acordo com a recomendação da senhora do posto. Lá chegados depressa percebemos que Geelong é uma pequena cidade que serve com dormitório para quem trabalha em Melbourne. É, no entanto, a segunda maior cidade de Victoria... Não há muita coisa, mas o que há... é delicioso. Geelong é a porta de entrada na Great Ocean Road e na Peninsula de Bellarine. A extensa praia tem algumas 40 esculturas de madeira que representam personagens da cidade, umas mais antigas outras mais recentes: pescadores, famílias australianas, os fatos de banho dos anos 30, os nadadores-salvadores. Maravilhoso!
Almoçámos por lá e seguimos viagem. O dia não estava nada convidativo mas estávamos com esperança que à medida que fossemos seguindo iria melhorar. Próxima paragem Torquay. Esta pequena cidade não é mais do que um resort de surfistas. O pessoal aqui é louco por desportos de água, sendo o surf o rei. Eu como não ligo nada a surf acho estranho ver uma cidade inteira, ainda que pequena, a girar à volta do surf. Demos um pulo à Bells Beach e continuámos - sem mergulho - dada a ventania. A Bells Beach é apenas uma das paragens dos 35 quilómetros da Surf Walk Coast. A próxima era Anglesea. Em Anglesea já havia um bocadinho mais do que só praia... que isto também ao fim da terceira, quem viu uma já viu todas! Encontrámos a Split Point Lighthouse e por ali ficámos um bocado a apreciar. Um caminho deserto, uma casa de chá pitoresca e um farol. Mais nada num raio de não sei quantos quilómetros, mas - acreditem - muitos mesmo! A casa de chá - onde também se alugavam quartos - era antiga, cheia de fotos de tempos passados, branca por fora, colorida por dentro e recheada de recordações. Entrámos e ficámos por ali a apreciar a mobília vintage e a imaginar as histórias que aquela casa teria para contar. As fotos cá fora mostravam rotinas piscatórias do início do século XX. Para mim mostravam também os trajes de banho dessa época eh eh eh muito bom! Do farol olhámos para o mar. É de cortar a respiração. Afinal não é verdade o que disse ali em cima, quem viu uma praia não viu todas!
Seguimos. Fomos parando pelo caminho sempre que queriamos tirar umas fotos da paisagem, mas foi num instante que nos pusemos em Lorne, o sítio da primeira noite. Chegádos ao Parque de Campismo e já com a tenda montada fomos explorar o sítio. Eu juro que me pareceu ter saído da Austrália e ter entrado directamente num filme de época. Esperava a qualquer momento ver alguém vestido de dama antiga dentro de um choche, mas o que vimos foi mais surfistas. Um supermercado, duas pizzarias, dezenas de esplanadas, um pub (aberto às sextas e sábados), um banco, post office, algumas lojas de roupa e uma sala de cinema. E acabou Lorne. Eu, sempre menina de cidade, perguntava-lhe a ele, sempre menino do campo, como é que era possível ser teenager ali. Eu estava a amar tudo que via, a arquitectura, a limpeza, tudo bem arranjadinho, mais um memorial para os mortos de guerra do ANZAC mas...como é que se tem 17 anos num sítio onde só há um pub e uma sala de cinema?? Voltámos ao Parque e pensámos em ir ao cinema nessa noite. O problema é que aqui, e não só em Lorne mas em todo o país, é que tudo se passa mais cedo... Então para irmos ao cinema teríamos de jantar à 6 da tarde, porque o cinema é às 7h30... como ainda nem sabíamos o que iamos ou queriamos comer percebemos que talvez não fosse a melhor ideia.
O que eu gosto disto do campismo é que ando de havaianas e hoodie sem grandes preocupações se estou ou não penteada. O que ele gosta é de fazer bbqs. Eu já aqui disse milhares de vezes que os australianos são minuciosos e muito cuidadosos. É por isto que o país funciona tão bem... Então, em vez dos campistas andarem de fogareiro na mão, é-lhes disponibilizado um bbq a gás - gratuito - que se desliga automaticamente ao fim de x tempo e que é de utilização livre. Estes bbq existem um pouco por tudo quando é parque. Aqui em Sydney, perto da minha casa, tenho dois. Assim ninguém faz fogueiras e diminui-se o risco dos fogos florestais, coisa que aqui também é levada muito a sério.
Lá fizémos o bbq. Anoiteceu e nós recolhemos à tenda. Há algum tempo que não dormia num colchão de pouco mais de um centímetro e sem almofada, mas isso não tem importância nenhuma. Planeámos o segundo dia à luz da lanterna e adormecemos a sonhar com a próxima paragem.
São tão fofinhas!
Torquay
Split Point Lighthouse
Tea house
Lorne
Cá uma beijoca
Eu não digo? Cá está ele!
Going to the park
4 comentários:
Conduzir no outro lado é trabalho para três pessoas... um conduz, um vê o mapa e o outro certifica-se q o condutor se mantêm na faixa correcta, lol. Belo passeio! bjs
Amei!!! Tudo.
A descrição, os sítios, os modelitos escolhidos para as fotos, as próprias das fotos. Isto de ser tua fã já é algo muito importante mas isto de conseguir ver-me aí pertinho de ti a viver mil e uma aventuras nessa terra é tooo much!!
kiss and keep up my darling
Ah!! Só mais um pequeno-grande detalhe... adorei o new look aqui :)
As senhoras que fotografaste até podem ter um coração fofinho, mas têm cá umas caras de pau...! Tenho visto as imagens que tens postado e tenho gostado muito. A nova imagem de abertura do blogue é muito acertada - com as mãos nos sonhos :) Beijinhos e abraços
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