Cartas


11/06/2011

Random thoughts

E cá estou eu ao fim de 4 meses a terminar o semestre. Nunca nas minhas três décadas e pouco tive 4 meses tão cansativos...ok, cinco porque ainda não acabei os exames. Só no dia 22 de Junho lá pela tarde vou respirar de alívio... ou melhor, só lá pelo dia 13 de Julho, que é quando saem as notas.
Têm sido quatro meses (ok, vão ser cinco) de esforço, dedicação, aprendizagem, força, luta diária mas que me têm compensado tanto. Acho que ao fim de quatro meses, mesmo mais cansada do que nunca, no limite das minhas forças - fisicamente e psicologicamente - posso dizer que nunca estive tão feliz. A forma como me integrei e como este país me aceitou foi tão instintiva e tão fácil que já não tenho medo de ir para qualquer parte do mundo. Já não sinto que pertenço a um lugar, definitivamente já não sinto que pertenço a Portugal, ou a Lisboa.
A Austrália é o país das oportunidades. Não conheço os EUA, mas duvido que seja tão fácil para um emigrante lá, adaptar-se tão rápida e facilmente como cá. A razão é simples: os australianos não existem. O que existe aqui na Austrália é um mix de pessoas com nacionalidade australiana mas com origem em países tão distintos como Noruega ou Índia, China e Japão ou Filipinas e Nepal. E, por isso, todos se aceitam, todos se compreendem nas suas diferentes pronúncias, todos se ajudam porque todos sabem como foi quando aqui puseram os pés pela primeira vez.
E falando em pés, não sei se já aqui disse que os australianos adoram andar descalços no meio da rua. É uma cena que me faz alguma confusão, confesso. Mas não é raro, pelo contrário é muito frequente, ver pessoal a ir para a faculdade ou para o ginásio com os chinelos na mão e os pés descalços no chão. E mesmo agora que está um frio do camander é vê-los e vê-las por aí de havaiana no pé.
Mas é assim que se vive aqui. Descontraidamente. Os australianos são uns bacanos. "No worries" é a expressão que mais repetem e que melhor os define na minha opinião. Posso dizer que ainda não encontrei aqui um australiano antipático (bom temos aquele em Petersham, mas esse não foi antipático, só foi uma besta). Aqui na minha zona dizemos bom dia às pessoas que connosco se cruzam na rua e agradecemos ao motorista do autocarro quando ele pára na nossa paragem. Em qualquer lado que vamos, o cumprimento é sempre : "hi! how are you?". Sempre seja qual for a loja, ou departamento da faculdade ou o serviço. No café onde trabalho, os clientes chegam e nós dizemos: "Hi mate! How are you? What's for today?" E do outro lado a resposta é: "hi! I'm good! And you?". E perdemos ali um minuto ou dois só a perguntar como estamos uns aos outros. E é assim em todo o lado, até na caixa do supermercado. E é giro.
Agora estou em época de exames. Tenho mais três para fazer depois de já ter feito o primeiro, o de Finance. Não correu mal, e devo dizer até que era fácil. Mas para mim foi extremamente longo pelo que ficaram algumas coisas para fazer. Mas acho que passo... Faltam-me três e estou à rasca porque a vontade de estudar é zero, a capacidade de concentração é baixíssima e o trabalho é mais do que muito. Mas pronto, agora na recta final não vale estragar tudo.
Passou tão depressa. Parece que ainda ontem aqui cheguei. Mas depois olho para trás e parece que já não vejo as minhas pessoas há anos, mas o meu jantar de despedida foi só há 4 meses. Das pessoas do jantar só cerca de 50% mantêm contacto comigo... e eu fico triste. Gostava que não me esquecessem. Mas sabia quando vim que isso iria acontecer. Por outro lado, vir para tão longe traz ao de cima aqueles que sei que vão ficar para sempre, não interessa em que parte do mundo eu possa estar. E eu fico feliz.
e hoje vou estudar outra vez Macroeconomia. E não me apetece nada. E tenho medo de não me lembrar de nada quando for o exame. E tenho medo de não passar e ter de voltar para um país que já pouco me diz. E é isso que me dá força para desligar o pc e virar-me para os 300 modelos que tenho para memorizar. E o chá de limão e gengibre que comprei é uma merda.
Até breve!

5 comentários:

André Mendes disse...

Bem, aqui no burgo são cinco e meia da manhã e eu estou a ler o teu post. Admiro muito o teu espirito de iniciativa e de teres pegado na trouxa e teres ido para o outro lado do planeta. É inevitável pensar como poderia ser a minha vida se fizesse o mesmo mas há diversas coisas que me prendem por cá, para alem daquelas que teriam obviamente de ir comigo. Ainda o meu pai era vivo e chegou-se a falar em ir viver para a Austrália. O meu pai já teria emprego e a minha mãe não seria difícil de arranjar na altura. Mas pronto, ficou tudo numa de "ahh e tal" e não fomos. Mas a curiosidade ficou. E este país, que é o meu e que amo e detesto, diz-me cada vez menos. Agora esquecer-te? Achas que é mesmo possível? Beijo grande...

Vânia Pinheiro disse...

Minha querida,

É impossível ler este post e não ficar cheia de orgulho em ti!
Independentemente de passares ou não, já valeu a pena.

Quanto ao país que deixaste, o nosso, estará sempre aqui, com tudo de bom e de mau. Por muitos anos que passem, e saudades que deixe, infelizmente não perdeste nada.

Pena não ter estado no teu jantar de despedida, mas também não gosto de despedidas. De qualquer forma sabes que tens um apoio incondicional daqui do Norte.

Tenho mesmo saudades tuas paaaah!!!!

P.S. - Estuda minha menina, que no final tudo valerá a pena ;)

Beijãaaaaaaaao

Unknown disse...

Pois é. Passaram se 4 meses assim num zip e fico feliz por tudo estar a correr bem. É esse feeling que procuramos, ou devemos pelo menos, quando palmilhamos a vida, seja aqui, ali ou aí. Natural é ambientar mo nos ou mudar mo nos. Afinal somos todos um pouco nómadas, fascinados pelas diferenças e pela mudança, num mundo que é cada vez mais igual. Continua, estudar e a palmilhar que aqui deste lado do planeta tens me a desejar te as maiores felicidades, minha emigra querida.
Bj. Miguel Lobo

AR disse...

Eu sempre achei - e disse - que esta tua viagem era acima de tudo um teste a ti própria, aos teus limites, às oportunidades que terias de te oferecer para acreditares que tudo é possível. Este balanço que fazes agora, de 4 meses que até parecem uma vida inteira, mostra que a aposta tem sido ganha, que tudo o que tens feito tem sido por ti, vem de ti e que todos os benefícios serão para ti. Só para ti.
Então: só podes estar feliz. Nesse lado do mundo mas contigo, como nunca.
um beijinho enorme
Sempre atenta
Andreia

Li disse...

Como já referi anteriormente és uma inspiração para qualquer um!!!!!

Admiro-te muito e tenho muito orgulho em ter uma amiga como tu. És simplesmente fantástica!

Continua com essa força incrível e vais ver que tudo corre como desejares.

Beijinhos cheios de saudades