Cartas


06/06/2011

Dos amigos sem gorgulho

Quando era pequenina e ia para Melgaço, não foram raras as vezes que ajudei a minha mãe a preparar feijão verde, a escolher o arroz, a separar o feijão bom do feijão com gorgulho, a pôr de lado as castanhas boas e deixar as más. Tratava-se de um processo simples: dos alimentos provenientes das suas hortas que os vizinhos faziam questão de nos dar, tratava-se de escolher o que é bom para comer do que é para se deitar fora.
Não sabia nessa altura que ia passar o resto da vida a fazer estas escolhas. Não sabia que mesmo quando se faz uma primeira escolha, há que voltar a rever tudo outra vez para não ficar nada que nos estrague a refeição.
A minha vinda para a Austrália acabou por funcionar como uma selecção das pessoas da minha vida. As que tinham gorgulho acabaram por me deixar, ficando só as boas. As que por alguma razão ficaram de fora injustamente, estão a regressar.
Nestas situações, o melhor e o pior de quem nos rodeia e de nós próprios vem ao de cima. De algumas pessoas apenas confirmei a importância que tinham, têm e sempre terão. De outras percebi que afinal são mais importantes do que eu pensava. E, infelizmente, as que restaram são aquelas que afinal nem me fazem assim tanta falta, nem eu a elas.
Nesta altura que me encontro tão longe de todos, receio muitas vezes que me esqueçam. Porque não estou lá quando precisam, porque não posso fazer grande coisa se passam por alguma dificuldade, porque não acompanho as suas vidas de tão perto como gostaria. É o caso da minha Verónique. Minha querida, não imaginas como gostaria de estar mais presente neste teu momento. Daqui só te posso dizer que tu és o sol e que o sol às vezes fica encoberto pelas nuvens, mas depois volta a surgir ainda mais forte do que a

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