Cartas


21/03/2012

A justiça portuguesa é ridícula para não dizer que me mete nojo

Corria o ano do Senhor de 2008. No dia 2 de Janeiro, ao final de um dia de trabalho, quando viajava no comboio de regresso a casa fui assaltada. Um grupo de putas - não sei os nomes delas, portanto, vamos chamar-lhes assim - achou boa ideia quando chegámos ali a Benfica agarrar na minha mala e levar tudo o que tinha comigo e, assim, fazer-me começar o ano da melhor maneira.
O que se seguiu foi o drama... perante os meus gritos ninguém se mexeu, tive de implorar um telemóvel para ligar à PSP, o senhor que estava sentado à minha frente ainda disse que estava mesmo a ver isso a acontecer porque já as conhecia...mas achou por bem ficar a ver se afinal tinha razão.  Daquela noite de merda que me fez gastar balúrdios em substituição de fechaduras e medicamentos, já que se seguiu uma semana inteira de febre, só recordo o trabalho extremamente eficaz da PSP que trabalha na CP. Sim, demoraram 4 horas a registar uma queixa porque claramente não vêem muitas vezes computadores à frente, mas senão fosse por eles não tinha conseguido cancelar os cartões bancários, nem os cheques. Enfim, palmas à actuação da PSP que não podiam ter sido melhores.
Recordo-me que um deles me disse: " Queria pedir-lhe para apresentar queixa, pode ser?"
E eu indignada respondi:" Mas o que lhe faz passar pela cabeça que não vou apresentar queixa!? Que disparate! Claro que quero apresentar queixa!"
E assim foi. Deixem-me dizer de novo, isto foi dia 2 de Janeiro de 2008. Fui quatro vezes à polícia para identificar a menina que efectivamente me levou a mala. Identifiquei-a em fotos duas vezes, em vídeo e pessoalmente não o fiz porque ela não pôs os cotos no local no dia e hora marcados.
Nunca mais, desde o dia 28 de Abril de 2008, último dia em que tentei identificar a vaca de merda pessoalmente, ouvi falar desta minha queixa. Tentei ligar à PSP mas ninguém sabia do que eu estava a falar. O número de telemóvel de um dos polícias que me ajudou naquela noite já não estava activo. E assim pensei que o assunto tinha sido arquivado e que, simplesmente, ninguém me deu cavaco.

Corria o ano do Senhor de 2011, creio que estavamos no mês de Outubro. A minha querida A. mandou-me um mail a dizer que tinha na minha caixa de correio um aviso de recepção de uma carta do Tribunal de Lisboa. Sem fazer a mínima ideia do que poderia ser pedi-lhe que por favor me tratasse do assunto. E ela, como sempre não me falhou, e descobriu o que era a carta. A carta sobre a minha queixa.
Disseram à minha A. que eu não tinha nada que sair do país sem informar o Tribunal. Desculpe?? Pensei que aqui a arguida era a vaca de merda e não eu! Mas desde quando estou eu sob uma medida de coacção?! Escrevi um e-mail aos senhores do Tribunal. Disse-lhes que não tinha obrigação de os informar de nada, assim como eles não se sentiram na obrigação de me informar do estado do processo. Expliquei que sou livre de me deslocar pelo mundo quantas vezes e por quanto tempo eu quiser e pedi, encarecidamente, que reencaminhassem a minha correspondência para a minha morada australiana. Não recebi resposta, mas recebi a carta. Então a carta era para me informar que o Ministério Público tinha decidido prosseguir com a acusação, mas só a uma das putas, a que efectuou o roubo. As que a ajudaram a segurar a porta do comboio não foram incluídas, ainda que eu tenha apresentado queixa e as tenha identificado da mesma maneira. Alegaram coisas que eu nunca disse e eu nem quis chatear-me mais com isso.
Como o legalês com que escrevem estas cartas é absolutamente inintelígivel pelo comum dos mortais mandei um mail a pedir esclarecimentos. Não recebi resposta. Deduzo que os funcionários do tribunal percebam tanto daquela merda como eu!

Corre o ano do Senhor de 2012, finais de Março. Recebi outra carta do tribunal que me informa que o Ministério Público decidiu levar o caso a julgamento, MAS como EU, notificada como testemunha,  estou na Austrália, o caso fica adiado até eu informar quando estarei presente na Pátria. Deus nos livre de se proceder ao julgamento sem a minha presença até porque uma coisa chamada video-conferência ainda não foi inventada. A minha presença é absolutamente necessária! Porque não posso ir a um esquadra local e testemunhar lá por skype ou coisa do género, em directo, ou gravar um testemunho em diferido, ou talvez assinar uma declaração. NÃO! Deus nos livre que isso são modernices do demónio! Portanto, se eu NUNCA mais voltar a Portugal, esta vaca de merda NUNCA irá a julgamento porque a justiça portuguesa só não é uma anedota porque me dá vontade de chorar!


7 comentários:

Ana disse...

:S

A. disse...

Lembro muito bem de toda esta situação e, especialmente, dos nervos que te provocou e todos os problemas seguintes. Realmente, em muitos casos os inocentes acabam sempre por ser os verdadeiros penalizados e massacrados. Triste muito triste.
Andreia R.

Isa disse...

propõe o julgamento assim como referiste no post. e envias uma declaração com assinatura reconhecida a confirmar o que disseste. propõe...

Rabbit disse...

É verdade andreia, acompanhaste de perto a situação. Pensarias talvez q já estava resolvida...
Isa é uma boa ideia e que irei pôr em prática. Corro o risco grande de n receber resposta e este nojo que sinto crescer exponencialmente

Unknown disse...

Excelente texto. Fizeste-me rir. De facto a justiça funciona de um modo torcido, tão torcido que se o lesado não comparecer em tribunal paga multa...

Ana Albernaz disse...

É triste a forma como (não) funciona a justiça no nosso país. Mas sempre houve algum seguimento no teu caso, porque conheço muitos (um meu também) em que se limitou a uma carta sei lá quantos anos depois a informar que tinha sido arquivado!

Merenwen disse...

Realmente é inacreditável, as burocracias e entraves que se colocam para julgar um simples roubo...imaginamos então os processos mais complexos. Isto requer muitas cartas para o Tribunal e divulgação nos media, ainda que duvide que isso sirva para alguma coisa...estamos num país cada vez mais amordaçado.